Feijoadas e mães...
Mais de duas da tarde de um sábado frio até dizer chega, mas ainda não tão frio quanto o máximo possível para este pedaço do Brasil em que vivo. Estava eu aqui, em frente ao pc, respondendo e-mails e ouvindo "Izzo/In The End" de Jay-Z e Linkin Park quando toca meu telefone celular. É minha mãe. Ela me diz que é para que eu coma algo, afinal ela ainda demorará a chegar.Já nem fico mais chateado, isso já virou rotina.
Minutos depois, o telefone a tocar é o fixo. Atendo-o e, do outro da linha, é a vizinha do 201, sindica do prédio, amiga de minha mãe e ex-sogra de meu irmão. Queria falar com minha mãe, mas como ela não está, disse que viria apenas deixar algo para a mesma.
Desligo o fone, aquiescendo com a senhora, e volto ao pc. Abro o IRC e conecto na Undernet. Busco um mp3 da versão original da música. Apenas "Izzo", de Jaz-Z. Antes que possa buscar a música, batem à porta e vou atender. É a filha do meio da Dona Selma, trazendo um pote com feijoada. Eu agradeço polidamente e brinco, dizendo que não tinha almoçado ainda e, se minha mãe demorasse a chegar, certamente não encontraria mais feijoada alguma (uma óbvia brincadeira, afinal havia uma quantidade muito generosa da comida). Despedi-me amigavelmente, novamente agradecendo, e retornei ao pc.
Começava a procurar a música no IRC e toca novamente a porta. Penso comigo: "Putz, hoje estou de porteiro!". Para a minha surpresa, era a mesma moça, novamente. Carrega consigo mais um pote, e disz-me: "Ó, agora a feijoada tá completa!" Não nego, fico com vergonha. Afinal, pode ser que eu tenha parecido pidão, ou um morto de fome. De qualquer forma, não posso recusar. Afinal, parece delicioso, e eu já estou com fome!
Me delicio com aquele banquete. Talvez não pareça nada, ou meramente um exagero para quem tem uma mãe que cozinha constantemente comidas como esta, mas para mim... Depois de comer com muito gostoquase todo o arroz, a couve e a farofa ainda devoro a laranja. Sei que tudo isso parece muito sem valor, mas prá mim foi algo muito importante. Alguém com quem não tenho nenhuma ligação se importou comigo. Isso não tem preço.
Ainda hei de desenvolver mais este assunto. Na verdade, expressarei futuramente os pensamentos aos quais cheguei depois deste evento.
2 Comments:
Uau! Que sentimentos expressos! Bem, eu realmente adorei ler um texto tão vívido e real em um terminal rodoviário (onde estou agora!), após uns dias de férias na casa de minha mãe. Desculpe-me não ter te avisado. Por sinal, vi quanto custa uma passangem SP-PoA: 129 reais ou 118, dependendo do seguro. Bem, expresso aqui minha felicidade em ler um conto do estilo brasileiro. Parabéns.
Certa vez comentaste um texto meu (por sinal, o texto era Ensaio Sobre O Quão Monótona A Vida de Um Cidadão do Século XXI Pode Ser) citando sete pontos bons no mesmo, alegando que, se um texto tiver sete ponto bons, é porque ele é irremediavelmente bom.
Resolvi, por força do destino ou por te considerar o futuro “Franz Kafka brasileiro”, citar sete pontos bons em teu texto:
– é real. Demonstras isso usando a primeira pessoa e narrando usando o personagem Guga;
– os sentimentos do protagonista são expressos de forma vívida e convincente, pois provavelmente também são verdadeiros;
– os personagens são bem trabalhados: a vizinha e sua filha, com sua gentileza, e o principal – você –, com seu tédio coberto de cortesia;
– os diálogos são muito bons: não existe o “eu irei vê-la pois a amo”, que é algo que não é muito usado na linguagem atual, mas existe o “ó! A feijoada ‘tá completa!”, que declara a vessimilhança do texto;
– as descrições estão perfeitas. Não há o “a feijoada estava boa; me deliciei com ela”, mas há a descrição do motivo da comida estar boa (fome e vontade de comer, hehehe);
– é curto. Isso é algo bom em textos narrando situações de um dia apenas ou menos, e foge da encheção de lingüiça;
– as frases finais “ainda hei de desenvolver mais este assunto. Na verdade, expressarei futuramente os pensamentos aos quais cheguei depois deste evento” indicam que vai ter mais! IIISSSAAA!!!
Por esses motivos e muitos outros que não cabe a mim descrever, eu considero esse texto tua obra máxima no quesito narrativa até agora.
Parabéns, gaúcho!
Postar um comentário
<< Página Inicial