segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O mundo é um moinho...

Dia desses era o centenário do nascimento do Cartola e foi quando eu assistia à uma matéria sobre ele na TV que eu ouvi de novo a música "O mundo é um moinho". Eu não sei bem explicar, mas tem coisas que estão lá o tempo todo e a gente não vê, estão na nossa cara, ululam para nós, quase nos mordem e mesmo assim... a gente não vê. Eu conhecia essa canção só na voz do Cazuza, ou pelo menos tinha ela assim na memória, por conta de uma ex-namorada. Mas eu não tinha parado pra ler a letra da música.

Eu achava que o mundo era um moinho por causa das voltas que as hélices (são hélices?) dão, numa referência ao movimento da Terra e àquela velha máxima que diz que o mundo dá voltas no sentido de as coisas mudarem, inevitavelmente.

Aí eu fui ler:

Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida

Já anuncias a hora da partida

Sem saber mesmo o rumo que irás tomar


Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó.

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés

Não há dúvida que o velho Cartola estava triste ou inspirado (ou os dois, visto que um leva ao outro) quando escreveu essa música. Me impressiona como essa música começa em um tom, e vai aprofundando a tristeza, a mágoa. Melhor dizendo, como vai afundando nelas.

E eu não sei, embora eu não viva nada assim no momento, essa música me dói, me dói muito. Pode ser influência das aulas de Literatura Brasileira, ministradas por um professor que faz esquemas que eu chamo de semióticos (sem saber se o são, a bem da verdade) no quadro, e pode ser influência das leituras e vivências que tive ultimamente, mas eu vejo mais nessa letra do que aquilo que ela diz.

E se esses moinhos forem algo quixotesco? Quem sabe não fantasiou-se neles os gigantes, ou seja, o maravilhoso, o incrível, o sonho? E o triturar é isso: a confirmação da realidade ante o sonhar, a concreta desilusão. (É talvez a banalidade pros Changelings, é a negação do acesso à cidade pros personagens de "62: Modelo para armar"?)

Me ficam muitos questionamentos, pedaços deles. Talvez pedaços triturados pelo Imenso Moinho.

Assim disse Gustavo @ 10:00 PM   0 comentário(s)

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O Autor

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Nome: Gustavo Ribeiro
Lugar: Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Um cara aprendendo com a literatura e as culturas de outros países e do meu. Sempre aprendendo, sempre vivendo como se fosse o último dia.

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