Trilogia Ilógica
Dumas Filho, Balzac, Cortázar. As últimas leituras que fiz vieram das obras desses três distintos escritores. Distinguem-se os outros e diferem, também, entre si. E ao final da leitura de uma obra de cada, sobreveio-me a impressão de que essas diferenças combinam e colaboram para uma experiência literária rica.
Tive uma idéia no princípio, e cheguei até aqui com ela, mas agora salto dela como se saltasse de uma diligência para outra, como num daqueles filmes antigos de ação em movimento: não farei mais uma crítica literária bem pensada e refletida nas palavras. Falarei das minhas impressões de maneira mais pessoal, como falasse a um amigo. Uma crítica sem valor científico, parcial, e meramente embasada numa leitura não muito dedicada às três obras.
Eu não lera “A Dama das Camélias” para a aula que deveria. Sabe como é, aquela velha certeza de que livros bons são aqueles que lemos, e que a maioria do cânone literário é de uma “qualidade” tão estranha que só agrada os eruditos mais arrogantes e pedantes. Mas assisti à aula de Leituras Orientadas II em que se discutiu a obra e fiquei impressionado de maneira positiva pelo enredo, pelos recursos de narração, pelo sentimento geral, o élan do texto. Aí veio o feriado e tive tempo de ler a obra (convenhamos, não há como fazer uma leitura honrada de uma obra em 5 dias... É negar ao texto a atenção que ele merece receber). Li-o com a mesma velocidade que li meus livros favoritos: três dias (e nisso pode haver contradição com o que disse eu nos parêntesis anteriores? Não, não... nem todo livro há de ser nosso favorito! Mas esses também merecem atenção, o que requer de nós mais tempo, não é?). É uma obra dramática e humana, nos sentidos mais próprios dessas palavras. Um desses dramas universais e verdadeiros, honestos. Além da habilidade fantástica de Alexandre Dumas Filho em expressar a história, há mais por trás desse tocante romance: é, em parte, autobiográfico. Tornou-se um de meus livros favoritos pela profundidade com que deixa marcas de sua história na memória afetiva do leitor. Pelo menos para mim será difícil sem ver um exemplar de Manon Lescaut sem me emocionar um pouco daqui em diante.
Tendo lido o livro anterior com avidez, com sofreguidão, peguei logo para ler o livro seguinte da lista da disciplina: “A mulher de trinta anos”, de Honoré de Balzac. Mas minha alegre ansiedade viu-se freada, então. As primeiras páginas não o dizem, mas este livro de Balzac é muito mal-estruturado e repleto de partes entediantes. E, o pior, quase não há pausas no meio dos capítulos, o que complica ainda mais fazer uma pequena parada para tentar recobrar o fio da meada, que se rompeu quando tropeçamos nele, já que Balzac o tramou de maneira tão confusa que se enredou em nossos pés. Não lhe tiro o mérito por certas partes realmente interessantes, vívidas e atrativas, que me fizeram pensar que eu conseguiria concluir a leitura desse clássico canônico. Mas, por Deus! Ele parece simplesmente esquecer-se de um personagem (um dos amantes de Júlia), simplesmente cessando de falar dele. Além de criar frases tão longas que comprometem a compreensão das idéias, o que nos faz ter de relê-las cerca de meia dúzia de vezes pra só então dizer um “Ah...” de entendimento. Está certo que, por ter o livro sido publicado em partes em forma folhetim, a continuidade ficou um pouco comprometida. Disso o absolvo, “seu” Balzac. Mas, ah, por fazer de Júlia um fantoche que de um sem-número de sofrimentos padece aparentemente sem relação direta nenhuma com o desenlace da obra o senhor está atravessado na minha garganta. Ainda lhe dou o benefício da absolvição pois não o li inteiro, só. E, ademais, todos merecem uma segunda chance. Um dia tentarei reler a obra com mais calma.
Depois do Balzac, eu estava de saco cheio! Queria ler algo por gosto, algo diferente, de preferência algo completamente diferente do que lera
Chegamos, enfim, a teoria de que eu tinha falado lá no início: Embora muito diferentes entre si, essas obras compuseram uma trilogia em que eu me enlevei e comovi, me entediei e embotei, e, finalmente, recuperei o ânimo com a leitura, porém com cautela. É, meus caros amigos, Cortazar pode enlouquecer um leitor. O Gabriel é prova!
P.S.: Os livros de Dumas Filho e de Balzac são fáceis de encontrar na internet, mas o mesmo não se pode dizer do conto que citei de Cortázar, por isso indico um blog onde podem lê-lo: http://www.alscontos.blogger.com.br/
0 Comments:
Postar um comentário
<< Página Inicial