De prender o folego (narração)
Todo mundo aqui com certeza já vivenciou isso. Mas vale a pena contar a minha experiência, porque cada pessoa encara de uma forma diferente; duvido que alguma vez tenha sido exatamente igual para duas pessoas.
Primeiro é preciso subir. Subir muito acima de si mesmo e postar-se na prancha de onde, balançando um pouco, se vê tudo que está lá embaixo; tudo pequeno e ao mesmo tempo tão claro, tão mais nítido.
Esse é um ponto decisivo, porque quando se sente medo só resta descer e olhar com pena a nossa imagem refletida, imagem que não tivemos coragem de encontrar no fim do impacto do qual desistimos.
Mas hoje eu subo. Um degrau por vez, um estágio por vez. Sinto que a plataforma onde piso é muito maleável. Se eu fosse desses que ensaiam, poderia fazer belas acrobacias até chegar lá, no fim – quase um atleta do salto ornamental. Mas não: cada salto é um salto e não há ensaio. Há outros saltos, com outras emoções, outras angústias no peito que se libertam de outras maneiras quando mergulho na matéria surda.
Respiro fundo. É o que eu sempre faço antes de me arriscar – e o risco aqui é concreto, brutal. Uma manobra malfeita e teremos conseqüências trágicas e um público pasmo.
Olhos atentos. Mãos trêmulas. Músculos retesados. Agora vai.
Mergulho de cabeça. Para encontrar a mim mesmo no fundo de mais um texto.
Marcadores: Produção Textual I, UFRGS
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