A Grande Jornada De Uma Só Obra
(fonte: http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/delacroix/)
Em verdade, isso pode aplicar-se não apenas a autores, mas também a qualquer homem de feitos estupendos. Um exemplo, Homero. “Homérico”, uma palavra magnífica, cheia de pujança, digna do homem a que ela deu origem. O mesmo ocorreu com o autor alvo deste texto, de tal modo excelso em seu escrever que também originou nova palavra: Dante Alighieri.
Italiano de Florença, Dante nasceu em data que dista cerca de 740 anos do dia presente e, aos nove anos, apaixonou-se de forma inquestionavelmente apegada por Beatriz, que conhecera em uma festa. Esta moça seria a grande razão de seu viver, sendo personagem em grande parte de sua obra, especialmente em “A Divina Comédia”, obra máxima do autor.
Alguém (cujo nome deveria eu recordar, mas novamente trai-me a minha memória vergonhosa) disse uma vez que o homem para ser completo deveria lutar, trabalhar e estudar. Dante fez tudo isso, e mais. Lutou pelas tropas guelfas de sua cidade na batalha de Campaldino, dedicou-se à política, e à Literatura.
Através desta última, criticou todos os tipos de homens e mulheres que se desviavam da conduta verdadeiramente correta e pia, pregada pelos homens santos que ergueram a Igreja.
Devo ser honesto, conheço pouco da obra literária deste que é um dos autores mais célebres da cultura Itálica. De tudo o que Alighieri escreveu (creio que gire em torno de 10 obras ou mais) apenas tive acesso à sua obra mais conhecida e que lhe valeu ter seu nome abrilhantado ao tornar-se um adjetivo.
“A Divina Comédia” é uma longa jornada que o poeta florentino teria feito por entre as três divisões do post mortem, porém ainda estando ele vivo. Dante é guiado por ninguém menos que o poeta romano, autor de A Eneida, Virgílio (este sim, já falecido). Longa é a jornada tanto para Dante quanto para o leitor: são 100 Cantos, divididos em 3 tomos: Inferno, Purgatório e Paraíso.
Apesar de ler este livro quase ser uma tentativa de suicido para aqueles sem muita paciência (na boa, deixando as normas de etiqueta um pouco de lado... haja saco pra ler Dante falando tantas vezes “quem és?” e ler respostas que parecem abalar o homem, mas que pra nós não dizem nada, por tratarem-se de espíritos de homens há muito falecidos), e mesmo para os leitores inveterados, como eu, ser uma leitura difícil (interrompi e recomecei a leitura do livro um sem-número de vezes, para dar um descanso à minha mente temporariamente estafada), é um texto envolvente, daqueles que nos causa a coceira da curiosidade e, quanto mais coçamos, mais sentimos o desejo de chegar ao fim do livro.
Como o adjetivo “dantesco” refere-se a algo infernal, não seria forçoso dizer que esta é a parte mais marcante do livro. Lamento apenas fazer tanto tempo que a tenha lido e algumas memórias dela já tenham se anuviado em minha confusa memória.
Durante Inferno e Purgatório, Dante é guiado por Virgílio,como dito anteriormente. Porém ocorre que, ao atingir o Paraíso, seja conduzido por guia muito mais cara a ele: Beatriz. Dante, que desde as plagas infernais mencionava Beatriz agora finalmente tinha a chance de vê-la em seu lugar de direito: a morada Divina. Nesta parte do livro, Dante deixa substancial e progressivamente mais claro o quanto ama e tem certeza da pureza dela: Beatriz tem seu lugar assegurado muito perto àquela mãe divina, que trouxe ao mundo a forma encarnada do Ser Superior.
O livro tem em seu interior conteúdo o bastante para tornar-se uma nova Bíblia e, também, um tratado contra os homens podres e vis que habitam ainda hoje a Igreja, destruindo o sentimento original da mesma, de bondade, de piedade, de Fé.
Apesar de versar (especialmente no original em italiano, onde há rimas) sobre certos temas de uma forma um tanto antiquada em algumas vezes, a essência do que Dante diz é realmente simples e pura. O que faz que, mesmo seu conservadorismo, seja portador de uma mensagem com um poder de libertar e conscientizar acerca da espiritualidade.
2 Comments:
A Divina Comédia. Genial e chatíssimo, eu pensava. Comecei a ler o livro, esperando que a genialidade do mesmo fizesse com que a chatice fosse diminuída. Não resisti a ler García Márquez ao invés de Dante Alighieri, sendo que ambos são geniais, mas Dante é divino. Mas García Márquez prende o leitor até as orelhas do livro; Dante não.
Adorei esse texto. Eu não conheci muito bem a história porque só li o primeiro canto, mas agora prometo colocando em conta minha vida que após ler o livro que eu leio no último dia – livro esse que falta vinte páginas para que eu chegue ao fim – começarei a ler A Divina Comédia, livro que é até mais acessível, sendo que eu o tenho.
Lembro-me de uma frase de Dante, que para mim é a “frase-mor” de caracterização dos seres humanos: “na metade do caminho da vida, eis que perdi o rumo”. Genial. Jamais li essa frase, jamais li Dante inteiro, mas isso não a torna menos genial. Essa frase é genial.
Como minha pilha de livros a ler cresce diariamente ao invés de diminuir, porque quanto mais leio mais conheço novas coisas a ler, não te desanimes se eu demorar para terminar de ler A Divina Comédia. Mas eu o farei.
Mon ami, congratulations!
P.S.: Já comecei a ler Commedia. Já ‘tô no canto XV do Inferno (para quem começou há menos de um dia...)!
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