Comente ao menos esse!
O blogueiro (o sujeito que publica seus textos em um blog, como eu) é, supremamente, um autor que deseja contribuir culturalmente com seus textos, mesmo que sejam ruins. É óbvio que se desejasse que seus textos ficassem eternamente anônimos, guardados somente para apreciação pessoal, não os publicaria - seria apenas um narciso. Poderia até escrevê-los em seu computador, mas guardaria-os, impublicados.
Por isso mesmo, também é o blogueiro um carente de atenção, de elogios. Muitos talvez reconheçam-se em uma frase de Nelson Rodrigues: "Eis o que eu queria dizer: - eu também andei de chapéu, ou de pires na mão, pedindo pelo amor de Deus que me elogiassem." Portanto, não é forçado dizer que buscamos comentários não por soberba, mas por genuína necessidade de saber que fizemos alguma diferença, que contribuímos em algo para aquela pessoa.
Vejo o escritor de blogs como um artista de rua, comparando-o com jornalistas, cronistas, escritores, enfim, da mídia impressa, que são os artistas de casas de espetáculo, comparados a nós. Enquanto gozam de uma estrutura pivilegiada, nos viramos tão-somente com a cara e a coragem. Enfim, eles Cirque du Soleil, nós saltimbancos.
Somos análogos aos artistas, por exemplo, do Brique da Redenção, aqui de Porto Alegre: Não debuxamos retratos sacros de Jesus Cristo e outras figuras com gizes no asfalto quente, mas nossas palavras delineiam rostos, formas, paisagens, dão forma à matéria bruta que é a criatividade, santificando a escrita. Não tocamos um repertório popular em folhas de árvore, enquanto tocamos um violão e batemos o pé contra o chão, para fazer soar o pandeiro nele preso, mas nossa expressão pode exigir mais coordenação e vir de maneira tão ou ainda mais insólita - e ainda assim divertida, jovial. Não ficamos parados, sem sequer piscar, com o corpo pintado com uma tinta pegajosa de aparência magnífica até que alguém dê-nos uma moeda que nos faça sair da genial inércia fingida de manequim humano, mas - seguindo Pessoa - fingimos a dor que deveras sentimos, para preservar nossa intimidade sem deixar de expressá-la. Tampouco nos prestamos a uma imitação de um homem brigando com seu gato, preso em uma sacola e que usa escárnios e piadas sem graça cujo alvo são pessoas entre aquelas reunidas à sua volta para vê-lo, mas não nos furtamos a usar técnicas pouco convencionais de redação, e - dependendo do autor - a atitude circense e non-sense pode ser uma constante.
Contudo, somos ainda mais mal-remunerados que eles. Em outros países, existem ruas inteiras onde os artistas itinerantes destilam seus ofícios sonoros, gráficos, de toda sorte, e conseguem o suficiente para viver razoavelmente bem. Já, aqui, na grande via que é a internet (e que, como toda grande via, à sua margem é lotada de pornografia), passam-se tempos e tempos sem que nosso trabalho toque alguém. E, quando novos e curiosos olhos observam nossa obra, não nos deixam sequer um comentário - ele, que é nossa remuneração, nossa glória.
Então, por favor, leitor: se lestes este texto, não deixe minha velha caixa de papelão vazia. Deposita teu níquel intelectual, ainda que julgues que meu texto não é tão bom que eu mereça que sejas muito generoso. Não deixe que a arte cesse por falta de sustento.
2 Comments:
Tô sem graça contigo, really really... Mas você sabe o quanto gosto de tudo o que escreve, e sabe também o quanto me esqueço de muitas coisas, como... ser atenciosa, por exemplo. Me desculpa por todas as vezes que me pediu pra ler e não li, pra comentar e eu não comentei, pra ser mais isso ou mais aquilo e eu não fui.
Tenha certeza absoluta que o seu texto "Mitologia", eu li logo depois que escreveu, e depois li muias outras vezes, mas nunca tive palavras pra comentar (até hoje não tenho), pensei demais no que dizer, mas sinceramente, as palavras fugiram de mim, depois que li. Não falei nada por ter esquecido... e quando lembrei, tive vergonha por demorar tanto. Agora, a única palavra que me aparece é OBRIGADA!
E sabe que não agradeço só pelo texto maravilhoso, mas por muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuita coisa mesmo, tanta que não cabe a mim enumerá-las aqui. São segredos e lembranças só nossas, que estão bem vivas em mim e acredito que em você também. É a nossa história, e isso tá registrado pra sempre nas nossas memórias. Amei o "Mitologia", mesmo mesmo! E todos mais que escreveu, sou sua fã n°0!
Sabe que só te desejo coisas boas, né? Mas acho que não sabe que desejo "coisas boas x infinitilhões ao cubo"!!!!
Gu, você mora no meu coração!
Beijões!
Bi.
PS: como o nosso pacto é o da honestidade, vou confessar uma coisa... quando li a poesia que escreveu, da flor, e vi o comentário... não foi intencional, mas bateu um ciuminho... mas não se preocupa, consigo controlar... rs!
Fica bem!
Ô teu blogueirozinho.
Larga mão de só escrever textos fodásticos como esse e começa a fazer publicidade desse blog, também.
(Afinal, um cara que consegue desvendar o mistério da obsessão por comentários dos blogueiros não pode ficar desconhecido do grande público.)
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