Barack na Nicarágua
Não acompanho mais o noticiário político. Não por alienação, mas porque já fiz isso demais, até perceber a diferença da política do dia-a-dia para a politicagem praticada nos centros administrativos das nações. Mas um homem não fica indiferente às mudanças sócio-políticas do seu momento histórico. E é nessa parte da história que entram Obama e a Nicarágua – não juntos, mas relacionados.
Ontem foi a posse de Barack Obama (e a despedida de Bush filho, o que é outro motivo para comemorar) e um dos eventos comemorativos de que ele participou foi um baile (ou algo assim, sinceramente não lembro), em que dançou “At last” (instrumental, mas eu imaginei a canção na voz da Etta James) com a esposa e discursou para o público presente. (Nossa, quantos parênteses!)
Acompanhado por gritos de “Yes, we can! Yes, we can!” e “Obama! Obama!” do público, Barack discursou sem demagogia, na mesma linha dos discursos de campanha. Agradeceu aos jovens, segundo ele grandes responsáveis pela sua vitória nas eleições ao insistir para que os pais votassem nele, e reforçou a idéia de que “sim, nós podemos” e não “Eu, Presidente dos Estados Unidos, posso!”. Deu importância aos jovens voluntários em sua campanha presidencial, por exemplo os que iam de porta em porta pedindo votos para Obama. Quieto porém simpático, Obama mostrou-se muito carismático.
A MTV Americana fez a cobertura do evento e a MTV Brasil retransmitiu, com tradução simultânea. No evento, o poder da decisão de ajudar e da união dos esforços de pessoas comuns foi provado: Em Washington D.C., voluntários reformaram duas bibliotecas de uma escola, dando a elas computadores, mesas, cadeiras e um acervo de 2 mil livros. No Quênia, numa região próxima de onde nasceu o pai de Obama, uma escola ganhou um laboratório de informática, com direito a uma reforma e pintura no prédio. Em Nova Orleans, a mais emocionante das ações, a casa onde moravam mãe e filha e que fora destruída quando do furacão Katrina foi reformada. Pintura, marcenaria, mobiliário. Eu quase fui às lágrimas, lá onde chegou rapidinho a dona da casa, não acreditando que tudo aquilo foi feito em dias por um mutirão de pessoas.
E o que isso tudo tem a ver com a Nicarágua? Bom, meu amigo, o que serve nos Estados Unidos serve na Nicarágua, como provou uma dessas coincidências que a gente não sabe se chama assim com medo e esperança de que não seja só isso: Cortázar foi à Nicarágua em algumas oportunidades e dessas viagens saíram os relatos que se encontram em “Nicarágua tão violentamente doce” (e eu ainda não entendi se tem ou não um dois pontos entre “Nicarágua” e “violentamente”). Descrevendo as coisas que o país passou durante o regime de Somoza, Cortázar também aponta a força do povo para reconstruir sua Nicarágua, mesmo quando não recebia apoio internacional. Conta que, por exemplo, foi feito um mutirão pelo povo, a fim de pavimentar as ruas da região leste de Manágua. Fizeram isso sozinhos, mas unidos.
E está aí a grande lição: Se queremos alcançar algo, não devemos esperar ajuda externa (embora aceitá-la, quando ela existir, não seja mau): do governo do nosso país, dos governos dos países mais ricos etc. A gente precisa é de união e de esforço. Grande e grandiosa a lição dos nicaragüenses e de um americano de raízes quenianas.
1 Comments:
então, guga. bacana o texto.
só achei que foi propaganda enganosa sua. você disse que seu texto era um misto de obama e cortázar. é mais uma reflexão sobre obama que cita uma obra de cortázar. mas enfim. seu texto serve bem como uma reflexão escrita e incisiva, como um retrato do filme que passa sob seus olhos.
bacana.
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