Leitoras
Dia desses, eu procurava saber quem era e o que tinha escrito o Daniel Galera. O nome eu já conhecia e já tinha ouvido falar alguma coisa sobre ele, mas, sabendo que ele ia dar uma palestra na minha universidade, fiquei interessado em maiores detalhes. E fui procurar na internet, é claro.
Muita gente fala de como a internet é maravilhosa porque permite encontrar aquilo que a gente procura. Eu a acho valiosa porque permite encontrar o que não procuramos. Foi o que aconteceu comigo dessa vez: procurando pelo Daniel Galera, encontrei um tema para escrever – que só de longe tem a ver com o cara.
Quando mudei o mecanismo de busca de “Web” para “Imagens” (queria ver como era o tal Galera) encontrei o blog “Entreaberta”, em que o post “Apetitosa Cordilheira” (http://entreaberta.blogspot.com/2008/11/mamihlapinatapai.html) é ilustrado por esta foto:
Até agora, muitos dias depois que isso aconteceu, ainda não consigo olhar para a foto sem perder muito da minha capacidade de expressão. Não só por causa do suave mas puríssimo erotismo do seio entrevisto (de uma sensualidade perfeita, sem sobrar nem faltar, nem insosso nem agressivo), mas também porque não consigo imaginar um elogio mais alto a um livro, quase uma declaração, do que uma foto como essa. Me comoveria e me realizaria se o livro que aparece nessa foto fosse meu, tivesse na capa o meu nome e o nome de um dos meus mundos imaginários.
Não consigo não pensar nas mulheres cortazarinas vendo uma foto assim, especialmente em Alana de “Orientação dos gatos”, porque entre Patrícia (a autora do “Entreaberta”) e o livro parece existir uma ligação igual à de Alana com o gato do conto de Cortázar: uma ligação profunda de entendimento, cujos códigos e mesmo o simples entendimento básico escapam ao protagonista (no conto) e a mim (aqui escrevendo). É óbvio que há tensão, sensualidade, mistério... mas ele está irremediavelmente fora de nosso alcance. Quando Alana olha para o quadro, ou quando Patrícia estende o livro frente aos seios, se perdem (ou se encontram) em uma realidade da qual nos resta apenas ser espectadores.
Dias depois, ligo a televisão pela manhã, ainda meio tonto de um sono mal dormido, e vejo um vídeo que me chama a atenção. É este, de Thiago Pethit e Tiê:
Quem assistiu ao vídeo e me conhece há mais de dois dias entendeu porque o vídeo me interessa. Enquanto o protagonista anda pelas ruas da cidade (Horacio Oliveira?) a protagonista, que bota as cartas de tarô (Lucía, la Maga?) lê... Rayuela, do Cortázar! Mas, fora isso, a música é boa (a voz grave do Thiago faz um bonito dueto com a voz suave da Tiê) e animação é singela e agradável. E a Maga-em-desenho-animado deitada ao lado do livro dá uma sensação vagamente semelhante à da foto da Patrícia.
Mulheres e livros, como é bom descobrir seus mistérios.
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