Copa!
Descobri que não gosto de futebol. Gosto mesmo é de Copa do Mundo.
É claro que, vez ou outra, ainda vou achar graça num jogo nacional ou regional, e certamente vou assistir às finais da Libertadores se meu time chegar lá. Mas vai ser difícil sentir emoção parecida.
A Copa do Mundo me acostumou muito mal. Quase três semanas ininterruptas de bom futebol todos os dias, primeiro três partidas por dia, depois duas por dia. Agora, neste intervalo de dois dias sem jogo, antes das quartas-de-final, fica difícil imaginar a sensação que ficará depois que o torneio acabar. Ficar refém das transmissões às quartas à noite ou aos domingo no fim da tarde (horários francamente deprimentes para se ver futebol, a não ser que se esteja no estádio); ter de se contentar com um jogo que não interessa e não cativa, com times contra os quais nada tenho, mas a favor dos quais também não nutro nenhum sentimento (como um Vasco x Grêmio Prudente ou Atlético-GO x Palmeiras); se acostumar à falta de qualidade técnica e à falta de ânimo dos jogadores, e à falta de apoio dos torcedores, que por qualquer derrota queimam camisetas, atiram cédulas ao campo etc.
Na Copa, mesmo que haja grande diferença técnica entre algumas seleções na primeira fase, sabe-se que ali estão os melhores – a Inglaterra, a França, a Itália, países do futebol mais rico do mundo, não podem contar com seus investimentos para reforçar o English Team, os Bleus, a Azzurra; Gana, país africano, pobre, teve material humano que trouxe melhores resultados.
A Copa do Mundo me encanta também pela multiplicidade étnica, pela possibilidade de conhecer os outros países, as outras culturas, os outros hinos. O japonês naturalizado norte-coreano chorando ao ouvir o hino do país que adotou é uma das imagens mais marcantes da Copa. Dizem que os brasileiros só são patriotas a cada quatro anos, e estou propenso a acreditar. Mas se esse é o nosso único jeito de conseguir união nacional, bem, melhor aproveitá-lo.
O colorido das torcidas, que convivem lado a lado, sem alambrados para separar os torcedores dos adversários do jogo; as musas da Copa; os estádios lindos (o Moses Mabhida é meu favorito, por sua vocação para obra de arte modernista); os erros revoltantes de arbitragem; a festa de um povo que fez o primeiro Mundial na África. Tudo isso contribui para que eu me entusiasmasse enormemente com a Copa do Mundo 2010, assistindo todos os jogos (lutando para ver nem que fossem 30 segundos de Argentina x México).
É provável que fique um grande legado na África do Sul: uma grande exposição no mundo todo, estádios modernos (que poderão ser usados também para o rugby, creio, o que diminui as chances de que obras tão caras fiquem pegando pó depois da Copa), uma participação honrosa na Copa. Espero que o motivo pelo qual a mídia não tenha noticiado racismo e violência sexual seja que esses pesadelos estejam se acabando em uma terra já muito sofrida, que merece paz, enfim.
Que os shows (o de abertura contou com Shakira, Black Eyed Peas, Juanes e outros grandes nomes internacionais), a festa popular e os jogos em alto nível (fora um ou outro, em que a pancada comeu solta) não nos façam esquecer os problemas. Mas, por outro lado, não deixemos de festejar, para renovar sempre a alegria e a esperança que nos permitem seguir na luta pela dignidade.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Página Inicial