Acaboooooooooooou! Acaboooooooooooou!
Pois é... O Brasil está eliminado da Copa do Mundo desse ano. Que bom! Não dava mais pra agüentar. Não dava mais pra agüentar os comentários do Galvão Bueno (que parece a mãe do Kaká e do Ronaldo) e os do Casagrande (que parece a mãe do Robinho, como disse um rapaz num ônibus que peguei há uns dias), o predomínio desse assunto em todos os jornais, os secadores e os fanáticos (um grupo achando que o outro logo iria quebrar a cara) e, principalmente, a paralisação do país em cada dia de jogo. As lojas fechavam e as ruas ficavam desertas, serviços eram interrompidos ao meio-dia ou às 4 da tarde, durante duas horas, pra ver os jogos.
É claro que outros países também adoram futebol, mas eles não sofrem dessa misteriosa paralisia que afeta o Brasil durante uma copa do mundo. Não vão discutir ferozmente se um jogador está obeso ou se ainda é aquele goleador de 4 anos atrás. Alemanha, França, Inglaterra, Itália... Não páram durante esse um mês em virtude de um torneio de futebol.
Nem deveria o Brasil! Temos um governo atolado na lama da corrupção (e, o que impede que isso mude, também atolado na lama da impunidade), problemas seríssimos de segurança pública e eleições vindo por aí. E mais: para esse pleito, o candidato com maiores chances de vencer nosso atual presidente já está envolvido em denúncias.
É ridículo ver gente chorando pela desclassificação para a França, quando há brasileiros em situações realmente desesperadoras, como falta de moradia, de atendimento médico ou mesmo de refeições.
O mais grave, no entanto, a meu ver, é perceber que o único sentimento nacionalista e de união do "brasileiro comum" aflora quando o assunto é futebol. Ou, por outra, é a seleção nancional de futebol. Isso pois o colorado hostiliza o gremista, o vascaíno zomba do flamenguista, o palmeirense quebra o pau com o corinthiano e assim por diante. Nem mesmo toda a descarada podridão do poder público incitou a união e o patriotismo neste país.
Veio bem a calhar essa desclassificação. Feito um tapa na cara daqueles que consideram a Copa do Mundo o evento mais importante da humanidade.
Ao menos já começaram a dizer que "a vida continua", "a vida não é só futebol" e assemelhados. Mas dizer isso ao ser eliminado da disputa é fácil. Vamos ver se conseguem manter suas cabeças no lugar quando conquistarmos nosso próximo título mundial... Ou, melhor ainda, se ainda lhes resta algum patriotismo se o Brasil deixar de ser “a melhor seleção do mundo”. A impressão que fica é a de que os brasileiros só são patrióticos naquilo em que são os melhores. E somente somos os melhores no futebol. E até isso está a perigo...