A melhor mãe do mundo
Faz já um tempo que prometi à minha mãe que escreveria um texto sobre ela. Claro que ela não me cobra, assim como todas as mães não cobram tudo o que devemos a elas. Não cobram porque não podemos pagar (não há como pagar a vida que recebemos) ou porque são pacientes e desapegadas e nunca nos jogarão em nossas caras as dívidas que temos (descontadas as absurdas – mas existentes – exceções em termos de mães).
Mas é claro que pretendo pagar pelo menos essa dívida, que é uma das poucas que contraímos com elas e se pode pagar.
O que acontece é que minha mãe é a melhor mãe do mundo. Claro, um argumento suspeito, vindo do próprio filho dela e sendo um argumento dado por todo filho. Mas ela é a melhor mãe mesmo quando brigamos e então ela se torna a pior mãe do mundo por um período recorde de tempo; quer dizer, o fato de eu ocasionalmente estar irritado com ela não lhe tira o mérito de melhor mãe do mundo nem nesses raros momentos.
A minha mãe é a melhor mãe do mundo porque divide os próprios presentes que dou pra ela; como ela acaba de fazer com o pacote de balas de goma que eu trouxe de presente pra ela – e olha que ela adora balas de goma! Ou como ela fez o livro “Amor líquido” do Zygmunt Bauman que também dei de presente a ela: deixou que eu lesse o livro antes dela, coisa que a mim, honestamente, custaria o diabo para fazer.
(Aliás, lendo esse livro do Bauman a gente se dá conta da crescente importância das mães, visto que são as únicas criaturas viventes desse líquido mundo moderno das quais podemos esperar uma abertura sentimental irrestrita – descontadas, novamente, as exceções.)
Além disso, ela não liga se eu quebro um copo, sujo a toalha de mesa que acabou de ser passada, ou queimo a capa do filtro de água que ela tanto gostava quando preparo um chá pra mim (e, acredite, tudo isso já aconteceu alguma vez... ou mais de uma vez). Quer dizer, ela até liga, mas sabe que o material é transitório e faz questão de me lembrar disso:
- Ah, tudo bem... é energia ruim indo embora!
A minha mãe sabe viver e sabe que a vida é para ser vivida, então busca sempre ver o melhor lado das coisas e aceitar com maleabilidade as mudanças e surpresas da vida. Ou seja, se eu chegasse em casa um belo dia e dissesse:
Mãe, quero largar a faculdade; ou
Mãe, sou gay; ou
Mãe, vou ser artista de circo; ou
Mãe, decidi virar padre; ou
Mãe, amanhã me mudo pro país de Gales;
Enfim, se eu viesse com uma surpresa dessas ou outra semelhante, eu não posso dizer que minha mãe ficaria exultante de faceirice, mas certamente ela me daria o apoio dela e me ajudaria no que fosse possível (e numa boa parte do que fosse impossível, coisa que só as mães conseguem), porque o objetivo condutor dela na minha educação foi me ver feliz; consciente, empenhado, esforçado, mas acima de tudo feliz.
Além desse texto (que certamente ainda fica aquém do que qualquer mãe merece, quanto mais a minha...) que mais posso dizer?
É claro: obrigado, mãe. Eu te amo muito.
Gustavo Melo Ribeiro
22 de agosto de 2009