O amor é belo até na morte
Um dos meus maiores ressentimentos contra a sociedade do meu tempo é que não se ama mais irrestritamente, deixando que o coração seja ungido com toda a potencialidade do sentimento. As pessoas não dão-se mais ao prazer da entrega total ao sentimento. Enfim, em último grau, já não se morre mais por amor.
Talvez nunca se venha a entender as condições da morte do jovem casal, mas algumas vezes não importam tanto as circunstâncias do fato, importa mais a reflexão que o mesmo nos impele a fazer.
E a reflexão que faço é um tanto triste, dorida e merencória: Não se morre mais por amor pois não se ama mais. Os indivíduos não se entregam ao amor como se lança uma pessoa em um mergulho do topo de uma escarpa, com um certo medo, mas que é vencido, superado e muito pelo excitamento da queda irrestrita, de braços abertos de encontro ao infinito mar do sentimento. O amor de verdade só existe quando passamos a priorizar o outro mesmo acima de nós mesmos. Abrimos mão de nossa vida para priorizar outra e o maior sentimento que alguém pode sentir.
Para minha lástima, como pude comprovar nos últimos 6 meses, não se ama mais assim. Amantes antigos esquecem dos outros como se tivessem sido apenas uma breve nota de rodapé curiosa em vez de um capítulo inteiro nos livros de suas vidas. E os novos amantes trocam de almas-gêmeas como quem folheia uma revista razoavelmente bela, mas desinteressante e descartável.
Quem nos amou esquece isso com fria rapidez que parece revelar que nunca nos amou de verdade. Quem poderia nos amar nos descarta após o primeiro gole de nossa paixão, deixando a impressão de que nunca podeira nos amar.
Sei que é uma visão amarga, mas é minha visão. A visão de quem gostaria de saber que há alguém disposto a ficar enterrada com ele por 6 mil anos, tempo que é apenas fração da real duração deste amor tão escasso: a eternidade.