Feijoadas e mães... Parte 2
Antes que se entusiasme Gabriel (o único leitor não-ocasional do meu blog), devo dizer-te que apesar de levar o nome do texto que mais apreciaste aqui, este difere um pouco do predecessor. Não tem as mesmas características, não é narrado de forma igual (em verdade, nem narrado é!), não foi escrito em estado de humor muito semelhante ao outro. Mas é fundamental para compreender "Feijoadas e Mães" e muito do que tem me ocorrido ultimamente.
Não ocorreu-me naquela tarde de sábado o pensamento que fez com que "mães" entrasse neste título, mas sim aquela ocasião foi mais uma reiteração desta reflexão.
Como eram as mães há 50 anos atrás? Adoráveis senhoras de casa, com seus vestidos longos e donas de uma respeitável elgância (ao menos se comparadas com a "elegância" vigente). Cuidavam dos afazeres do lar, monitoravam o desempenho escolar dos filhos, recebiam o marido cansado do trabalho com a refeição pronta. Este, por sua vez, lia seu jornal e gastava um pouco de seu tempo ao lado dos filhos. O pai trazia o sustento à casa, mas a mãe era a própria estrutura do lar. Talvez fosse um pouco monótono, mas certamente havia suas delícias!
O que não consigo compreender e que sobremaneira me incomoda é como isto mudou e a família hoje é, praticamente, uma instituição falida! Pais, mães e filhos saem de casa pela manhã, cada qual com seu destino. Muitas vezes não se falam nem 15 minutos por dia, ocupados demais que estão nessa inclemente rotina da vida moderna.
Antigamente haveria a figura materna, a quem chorar se as coisas não corressem bem. Hoje em dia, porém, não há mais (exceto para alguns indivíduos de sorte). Não há mais a mãe a fazer a feijoada, só a descongelar as comidas pré-prontas entre o intervalo de um turno de trabalho e outro.
Na antiga estrutura familiar, os filhos lidavam com a severidade paterna e o zelo materno, por vezes excessivo mas indubitavelmente doce. Havia um eqilíbrio! A sociedade moderna acabou por perverter isso. Pais trabalham demais, mais trabalham demais. O que sobra são pessoas cansadas e que, por vezes, "não têm tempo" prá serem mães típicas, aquelas mães no sentido mais carinhoso da palavra. Não toco nas funções patriarcais pois estes não sofreram grande mudança em seu modo de agir. Por mais incrível que pareça, estão tornando-se mais maternos até! Gastam mais tempo com seus filhos (e tempo de qualidade, não só assistir o Jornal Nacional exigindo silêncio do filho que se senta ao lado, quase mendicando atenção) do que faziam no passado.
As crianças estão crescendo em creches, os adolescentes tiram suas dúvidas com a internet e os amigos (tão ignóbeis quanto eles) e os adultos acabam por não ter a quem ligar e perguntar sobre aquela receita, já que a mãe "saiu para a noite". A meu ver é mister que voltem as mães de antes, menos preocupadas em re-viver suas juventudes e mais atentas à atenção, ao cuidado do lar.
A família como um todo está a se deteriorar, mas a mãe, como estandarte de tudo que a família representa (proteção, conforto, calma...) mostra bem o processo cruel pelo qual a mais importante forma de grupo social passa (incluindo as separações, que sobrecarregam mais as mães e mais as afastam da imagem da Mãe, com "M").
Sim, sim... Chamem-me de moralista! Taxem-me de retrógrado! Mas entenderão que digo quando a panela estiver ao fogo e a memória não estiver clara quanto ao malho que acompanha essa receita...