quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

O amor é belo até na morte

Um dos meus maiores ressentimentos contra a sociedade do meu tempo é que não se ama mais irrestritamente, deixando que o coração seja ungido com toda a potencialidade do sentimento. As pessoas não dão-se mais ao prazer da entrega total ao sentimento. Enfim, em último grau, já não se morre mais por amor.

Por isso me causou deleite idílico, regozijo amoroso a foto que vi por acaso na internet. Trata-se da figura abaixo:

É claro que é uma imagem com um certo sabor funesto, por se tratar de esqueletos sem o revistimento de carne e pele tão valorizado pelos idiotas que acreditam entender de beleza, esse poder tão subjetivo. Mas esses fósseis não são quaisquer. Segundo o que se estipula, têm entre 5 mil e 6 mil anos de idade. Como revelam os sites de notícia, o estado de conservação da arcada dentária não deixa muitas dúvidas de que era um casal jovem.

Talvez nunca se venha a entender as condições da morte do jovem casal, mas algumas vezes não importam tanto as circunstâncias do fato, importa mais a reflexão que o mesmo nos impele a fazer.

E a reflexão que faço é um tanto triste, dorida e merencória: Não se morre mais por amor pois não se ama mais. Os indivíduos não se entregam ao amor como se lança uma pessoa em um mergulho do topo de uma escarpa, com um certo medo, mas que é vencido, superado e muito pelo excitamento da queda irrestrita, de braços abertos de encontro ao infinito mar do sentimento. O amor de verdade só existe quando passamos a priorizar o outro mesmo acima de nós mesmos. Abrimos mão de nossa vida para priorizar outra e o maior sentimento que alguém pode sentir.

Para minha lástima, como pude comprovar nos últimos 6 meses, não se ama mais assim. Amantes antigos esquecem dos outros como se tivessem sido apenas uma breve nota de rodapé curiosa em vez de um capítulo inteiro nos livros de suas vidas. E os novos amantes trocam de almas-gêmeas como quem folheia uma revista razoavelmente bela, mas desinteressante e descartável.

Quem nos amou esquece isso com fria rapidez que parece revelar que nunca nos amou de verdade. Quem poderia nos amar nos descarta após o primeiro gole de nossa paixão, deixando a impressão de que nunca podeira nos amar.

Sei que é uma visão amarga, mas é minha visão. A visão de quem gostaria de saber que há alguém disposto a ficar enterrada com ele por 6 mil anos, tempo que é apenas fração da real duração deste amor tão escasso: a eternidade.

Assim disse Gustavo @ 7:23 AM   2 comentário(s)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Patético

Os seres humanos corrompem. Corações, sentimentos e até palavras...

Foi Nelson Rodrigues que me abriu os olhos para essa verdade (óbvia, como todas que ele apontava) que ora lhes revelo. E dei-me conta de que isso atingia até mesmo as palavras após ser muito espicaçado pelo vocábulo “patético” nos contos e memórias do escritor fluminense. Por vício adquirido pela influência do mau uso que a maioria faz do referido adjetivo, me soava muito insensível aquele termo referindo-se à dor ou sofrimento ou algum outro sentimento puro de uma pessoa.

Sentindo que algo havia de muito errado no significado que eu tomava como o respectivo para essa proparoxítona, consultei diversos dicionários. Aurélio, Houaiss, Michaelis. Todos confirmaram minha suspeita e informaram que patético nada tem a ver com apatetado, que parecia ser sinônimo. A definição mais simples veio do Michaelis:

pa.té.ti.co

adj. Que comove, que enternece. S. m. O que comove, o que fala ao coração.

Não sei como se chegou ao sentido que a maioria usa atualmente, se por uso sarcástico do sentido original da palavra se por confusão com a palavra que eu acreditava possuir sinonímia com esta. O fato é que se usa uma palavra extremamente forte, supinamente comovente para descrever algo tolo, sem sentido. A mãe de Beslan, envolta e crivada de dor, é patética. Um amor mais forte que a distância e o tempo é patético. A miséria humana é patética.

Mãe de criança morta em Beslan

Outro exemplo de palavra que perdeu o rumo de seu significado original é o verbo “adorar”. Originalmente significando cultuar uma divindade, a palavra encontra-se banalizada, despida do pudor do uso. Não é mais um sinônimo de idolatrar e pode ser vista em uso como mera hipérbole de gostar. Ninguém mais diz a um bom mas não muito íntimo amigo “eu te gosto muito”. Já descamba-se para o desnecessário adorar. Uma tremenda heresia. Adora-se ao deus de nossa fé, e – não distanciando-se muito do conceito original da palavra – nossa família. Nossos pais que nos geraram, nossos filhos que são nosso legado, nossas esposas com as quais decidimos compartilhar o restante de nossas vidas. Adorar é mais que amar, pois adorar só pode existir quando há inabalável convicção do amor do outro por nós – como o de nosso Pai por nós, que jamais nos abandonará, por ser seu amor irrestrito.

Mas este exemplo já compreende a corrupção não somente das palavras e seus significados, mas dos sentimentos arraigados a eles. Não chega a ser surpresa que isso ocorra em tempos tão malucos (o que Nelson disse em sua época eu repito: “Quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: – a nossa.”), onde tudo pode acontecer, até mesmo o mais absurdo dos acontecimentos. Mas é sempre triste. É sempre... patético... que as pessoas continuem a empregar as palavras sem saber-lhes o significado correto, assim como usam outras pessoas sem que lhes observem os sentimentos. Ignoram-se significados como ignoram-se corações e memórias de paixões.

Marcadores: Nelson Rodrigues, Patético

Assim disse Gustavo @ 10:50 PM   2 comentário(s)

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Poesias para Marina




Poesia Primeira

Teus olhos e teus cabelos
Ah, pudera eu tê-los
À minha frente
E em minhas mãos
E, contente,
Desmancharia-me em zê-los
Para recompensar-te a paixão
Que experimentar tanto ansejo
Em um infindável e eterno beijo.









Poesia Segunda
Fui pequeno barco
Em mar que desatina
Mas o destino, aristarco
Me levou a uma bela Marina

Assim disse Gustavo @ 7:56 PM   1 comentário(s)

O Autor

O autor
Nome: Gustavo Ribeiro
Lugar: Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Um cara aprendendo com a literatura e as culturas de outros países e do meu. Sempre aprendendo, sempre vivendo como se fosse o último dia.

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