quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Cortázar e a novela das 8

Ao Gabo, que se sentiu enganado pelo texto anterior

Como diz Cortázar em “Notícias dos Funes” (“Último round”, tomo II), me foram caindo como cocos. Não idéias para contos, coisa que ultimamente tá meio rara por aqui, mas percepções de certas relações. Primeiro, Obama e um pequeno país da América Central; depois Cortázar e a novela das oito (a fim de situar possíveis – talvez improváveis? – leitores futuros, a novela é “Caminho das Índias”).
Não, seria pedir demais que uma emissora fizesse uma novela original, quem sabe baseada em Horacio Oliveira e Lucía “Maga”, ou então em Tell, Marrast, Juan, Calac, Polanco, Feuille Morte et alli. O que aconteceu é que eu estava assistindo o episódio de ontem e, depois de umas ceninhas bem clichês, aparece um casalzinho simpático brincando de esconder num cenário diferente, até mesmo se a gente levar em conta que boa parte da novela se passa num país bem diverso do nosso. O cenário era o observatório do sultão Jai Singh!
(Cortázar esteve lá, tirou fotos e escreveu um texto, cheio de poesia. Juntando tudo, fez um livro: “Prosa do observatório”. Um livro bastante enigmático, mas muito interessante e muito belo.)
Foi animador, emocionante até, ver com mais qualidade as construções do observatório, ou, melhor dizendo, Observatório, já que ele se torna único e diferenciado quando a gente lê o livro do Julio. É ainda mais bonito e encantadoramente diverso. (E as enguias voltavam na memória, olhando aquilo em full color!)
Claro que eu prefiro o livro, mas pelo menos a novela serviu pra lembrar de um bom livro!
(Gabo, sei que o texto tá uma bosta, mas vá lá, né, tchê! Lembrei de ti quando vi o Observatório na novela, e é isso que conta, porque se não fosse tu eu tava ainda chafurdando na lama literária!)

Assim disse Gustavo @ 11:18 PM   2 comentário(s)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Barack na Nicarágua

Não acompanho mais o noticiário político. Não por alienação, mas porque já fiz isso demais, até perceber a diferença da política do dia-a-dia para a politicagem praticada nos centros administrativos das nações. Mas um homem não fica indiferente às mudanças sócio-políticas do seu momento histórico. E é nessa parte da história que entram Obama e a Nicarágua – não juntos, mas relacionados.
Ontem foi a posse de Barack Obama (e a despedida de Bush filho, o que é outro motivo para comemorar) e um dos eventos comemorativos de que ele participou foi um baile (ou algo assim, sinceramente não lembro), em que dançou “At last” (instrumental, mas eu imaginei a canção na voz da Etta James) com a esposa e discursou para o público presente. (Nossa, quantos parênteses!)
Acompanhado por gritos de “Yes, we can! Yes, we can!” e “Obama! Obama!” do público, Barack discursou sem demagogia, na mesma linha dos discursos de campanha. Agradeceu aos jovens, segundo ele grandes responsáveis pela sua vitória nas eleições ao insistir para que os pais votassem nele, e reforçou a idéia de que “sim, nós podemos” e não “Eu, Presidente dos Estados Unidos, posso!”. Deu importância aos jovens voluntários em sua campanha presidencial, por exemplo os que iam de porta em porta pedindo votos para Obama. Quieto porém simpático, Obama mostrou-se muito carismático.
A MTV Americana fez a cobertura do evento e a MTV Brasil retransmitiu, com tradução simultânea. No evento, o poder da decisão de ajudar e da união dos esforços de pessoas comuns foi provado: Em Washington D.C., voluntários reformaram duas bibliotecas de uma escola, dando a elas computadores, mesas, cadeiras e um acervo de 2 mil livros. No Quênia, numa região próxima de onde nasceu o pai de Obama, uma escola ganhou um laboratório de informática, com direito a uma reforma e pintura no prédio. Em Nova Orleans, a mais emocionante das ações, a casa onde moravam mãe e filha e que fora destruída quando do furacão Katrina foi reformada. Pintura, marcenaria, mobiliário. Eu quase fui às lágrimas, lá onde chegou rapidinho a dona da casa, não acreditando que tudo aquilo foi feito em dias por um mutirão de pessoas.
E o que isso tudo tem a ver com a Nicarágua? Bom, meu amigo, o que serve nos Estados Unidos serve na Nicarágua, como provou uma dessas coincidências que a gente não sabe se chama assim com medo e esperança de que não seja só isso: Cortázar foi à Nicarágua em algumas oportunidades e dessas viagens saíram os relatos que se encontram em “Nicarágua tão violentamente doce” (e eu ainda não entendi se tem ou não um dois pontos entre “Nicarágua” e “violentamente”). Descrevendo as coisas que o país passou durante o regime de Somoza, Cortázar também aponta a força do povo para reconstruir sua Nicarágua, mesmo quando não recebia apoio internacional. Conta que, por exemplo, foi feito um mutirão pelo povo, a fim de pavimentar as ruas da região leste de Manágua. Fizeram isso sozinhos, mas unidos.
E está aí a grande lição: Se queremos alcançar algo, não devemos esperar ajuda externa (embora aceitá-la, quando ela existir, não seja mau): do governo do nosso país, dos governos dos países mais ricos etc. A gente precisa é de união e de esforço. Grande e grandiosa a lição dos nicaragüenses e de um americano de raízes quenianas.

Assim disse Gustavo @ 6:21 PM   1 comentário(s)

domingo, 18 de janeiro de 2009

Novo perfil para o Orkut

Eu precisava atualizar meu perfil do Orkut. Ok, "precisava" é um pouco de exagero, mas eu queria, então. Queria colocar algo mais verdadeiro e mais pensado. Veio a inspiração, me sentei na frente do computador e digitei (no Word, onde parece que as coisas ficam melhores de ver). O texto abaixo é meu atual "quem sou eu:" no site e é dedicado a todas as pessoas especiais da minha vida (mesmo as que não estão citadas), as que foram, as que ainda estão e as que virão.

Falar de si mesmo é sempre complicado... Uma coisa é dizer algo sobre um disco, um filme, um livro, do qual a gente já conhece o início e o fim e, por isso, entende melhor o como e o porquê das coisas. Outra é falar de si mesmo. O final é desconhecido e até chegar lá provavelmente vamos passar por muitas coisas ainda.
Mas mesmo a vista da paisagem completa a gente tem de tomar cuidado e não contar tudo, deixar umas surpresas para serem descobertas na próxima música, na próxima cena, no próximo capítulo. Este é para ser um pequeno texto sobre a obra, para convidar as pessoas a ouvi-la, a assisti-la, a lê-la – não um daqueles comentários que entregam tudo, tirando a graça de conhecer a coisa a fundo. Imagina, se o sujeito me conta como acontece tudo em “Graffiti”, do Cortázar, não teria tanta graça lê-lo depois.
Acho que um bom “Quem sou eu” ou “Sobre mim” tem de ser como uma dica de um amigo que diz “ouve/assiste/lê, cara... Acho que tu vai gostar”. E aí, a gente pode até pôr uma ressalva, tipo “Apesar de desafinar naquelas notas/ser muito extenso/ter uns capítulos confusos”. É, porque honestidade é importante.
Mas, ainda assim, é complicado. Porque tem coisas que não aceitam limite de 1024 ou 2048 caracteres ou outra medida. Tem coisas que, transpostas para palavras, são pálidas se comparadas às coisas reais. Eu tô falando dos sentimentos, dos momentos compartilhados, das lembranças, da vida de verdade – da qual a linguagem, a escrita e o Orkut são só representações. E são essas coisas reais que me interessam, que realmente acho importante colocar aqui.
Mas como? Como falar em Camboriú? Como falar em Gabriela, Livian, Bárbara, Gabriela (não confundir com a primeira), Fernanda? Como explicar o que representam pra mim coisas diversas, como as conversas com a Denise (com direito a caretas), como a dica do Gabo (“Leia Cortázar, gaush!”) ou os cafés no Antônio com a Rosane (e muita risada, e muitas lágrimas)? E como é que eu poderia expressar aquilo que eu sinto quando tomo sol, aquela certeza de que estar vivo é tão bom?
Eu poderia explicar as coisas, ser direto, descritivo, dizer que memória as pessoas deixaram na minha vida (e Lourdes, claro, por falar em memória), mas elas não ficaram como memória, apenas. São sentimento e sensação até hoje, quando provo um milho com sal, quando faço uma resenha, quando fico feliz de ver algo bonito.
O que eu falei até aqui já foi muito e talvez não seja o que tu, que me lê agora, queria ler. Encara como uma dica de disco, de filme, de livro – cabe a ti procurar ouvir as faixas, assistir as cenas, ler as páginas.

Assim disse Gustavo @ 11:10 PM   1 comentário(s)

O Autor

O autor
Nome: Gustavo Ribeiro
Lugar: Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Um cara aprendendo com a literatura e as culturas de outros países e do meu. Sempre aprendendo, sempre vivendo como se fosse o último dia.

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