domingo, 25 de setembro de 2005

If justice rules the universe we are all in trouble

Clicke na imagem para ver o primeiro post de Esel4711 que vi e que deu-me a idéia para este texto

“Se Justiça governa o universo todos nós estamos encrencados”. Essa frase é a assinatura do usuário Esel4711 do fórum oficial do software de P2P eMule.

Logo que bati os olhos nisso, minha percepção do recado ali escrito foi totalmente distinta da que têm as pessoas menos “incomuns”. A frase obviamente refere-se ao fato de que todos os usuários desse programa baixam conteúdo com direitos autorais (alguém faz mesmo questão que eu mencione a irrisória quantidade de usuários que não baixa nada com copyright?). Portanto, caso houvesse justiça neste mundo, todos pagariam por algo incorreto que fazem agora e parece estar impune.

Eu também acreditaria nisso, não fosse por natureza um sujeito que não crê encaixar-se no estereotipo do homem contemporâneo e, mais que isso, se não tivesse uma certa tendência a ver o que todos vêem e enxergar o que a maioria não enxerga.

Esta frase agiu como uma bomba sobre mim. Devastadora, instantânea, pungente. Não são apenas os usuários desses programas que baixam coisas e acabam por safar-se de qualquer punição. São os políticos corruptos, os juízes de futebol envolvidos em esquemas de fraude, os empresários sonegadores, as mães negligentes...

Além da ausência de punição, uma outra faceta da falta de justiça me incomoda. O desequilíbrio e desigualdade. Alguns desfrutam de tudo ou, ao menos, de muito mais do que o necessário para se ter uma vida extremamente confortável. Não, não vou citar o que todos esperam. Deixem a já surrada comparação entre o habitante do sertão que morre de sede e o filhinho-de-papai que desperdiça quantidades opíparas de água ao lavar seu carro esportivo de lado. Usarei um raro tom pessoal nesse texto.

Há algum tempo, meu pai descobriu ter câncer. O mesmo aconteceu com meu tio e padrinho, que hoje se encontra em um estado bastante complicado no hospital. Tenho eu uma prima – filha deste tio - , que regula em idade comigo. As semelhanças acabam por aqui. Desde pequeno, nunca se pôde notar nela uma vocação especial para a humildade ou a simpatia. Mas isso nunca foi muito mais que uma característica repreensível da complexa personalidade mimada dela.

Até ano passado, quando completamos o Ensino Médio, ela estudava no Rosário, simplesmente o mais tradicional colégio gaúcho e fazia um dos melhores cursinhos pré-vestibulares do estado. Eu estudava em um colégio também particular, mas onde a disciplina era artigo perdido no dicionário onde a palavra reinante era desordem. No início deste 2005, fizemos vestibular com o intuito de ingressar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para o mesmo curso, e ela saiu-se amplamente melhor que eu. Posição 75 de 979 candidatos, ao passo que eu fiquei com uma posição nas cercanias da 100ª. Mesmo assim, não foi o suficiente: havia apenas 50 vagas.

Não que isso acarretasse algum problema pra ela. Enquanto a formiga aqui trabalhava num shopping com um patrão sonegador (lembra do início do texto?), a cigarra fazia (e ainda faz) Design na Feevale, com tudo pago por uma outra tia.

Bem, sempre ouvi minha mãe dizer que um dia as pessoas aprendem, com as “pedrinhas que Deus joga na cabeça delas”. Ao que parece, uma piora substancial no estado de saúde do pai dela não foi o suficiente. Esta prima minha não passou uma noite sequer no hospital com o pai dela. Continua a viver em um mundo de fantasia, onde é o centro das atenções. E pior, alimentam isso. A tia que paga a Feevale agora também paga a natação, as aulas de inglês e, pelo que entendi, até aulas de direção.

Não me entendam mal, não acho que devam deixar de estender as mãos a ela. Isso jamais. A caridade é uma das qualidades humanas que mais me agrada e me fascina. Mas a humildade e a gratidão também.

Voltando a fazer um paralelo entre esta minha prima e eu, examinemos o que recebo eu desta minha tia que a ela dá tudo (incluindo fartura de supérfluos como refrigerantes e chocolates). O máximo que dela recebo são e-mails com piadas (às vezes infames, às vezes boas) acerca do nosso presidente. Pelo que sei, sequer pergunta a minha mãe como estou. Quanto mais se preciso de algo.

Não gosto de mendigar (e minha polidez me impede que eu peça coisas), nem sou dado a inveja. Mas isto é uma tremenda desigualdade. Enquanto a princesinha mimada tem tudo do bom e do melhor e continua a agir com seu estilo indiferente, mimado e frio, o rapaz que apenas queria uma chance de estudar sem ter de trabalhar (pois cansava-se a ponto de não conseguir concentrar-se nas aulas quando era monitor) fica parado, sem que sequer questionem-se se ele está bem física e, mais importante, emocionalmente.

É este um exemplo de como a injustiça prejudica a todos e contamina de forma alarmante. Se ainda não ficou, faço-o agora. Desisti de meu desejo de tornar-me jornalista e prestarei Letras esse ano. Se não passar, ao contrário da princesinha, hei de trabalhar, por certo. O maior prejuízo para mim é para minha conduta: Com tantos espertos e imorais a darem-se bem sem esforço e eu somente a penar, penso seriamente em abandonar essas besteiras a que foram reduzidas hoje a ética, a humildade, a gratidão e outras morais e tornar-me um destes espertos. Talvez, fraquejando, consiga o que tanto anseio mas não alcanço ao resistir.

Assim disse Gustavo @ 12:12 AM   1 comentário(s)

sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Conta-me Uma História

Sons estranhos. Era o vento, soando semivocalicamente lá fora. Uma noite fria. Fria e escura! Como a algum tempo não se via. Ah, suspirou ele. Era ótimo chegar em casa! Um ambiente aconchegante, repleto de paz e sem pessoas carregadas de energias negativas. Pode parecer um pensamento um tanto “nova era”, mas é a mais pura verdade para um changeling.

Pousou o casaco suavemente no cabide ao lado da porta de entrada e esfregou os braços com as mãos, como se ainda estivesse sob ele o frio que lá fora castigava um sem-número de desabrigados. Poderia ficar muito triste por eles, afinal sua natureza sempre fora piedosa, mas preferiu pensar nas coisas boas. Não nas coisas boas do outro lado do mundo, ou mesmo na vizinhança: pensaria somente na segurança de seu lar. Seu refúgio sagrado, seu bastião. Definitivamente, era ótimo estar de volta.

Os olhos ardendo pela poluição densa piscam, se acostumando à luz do interior da casa. Tira as luvas, revelando dedos brancos e enregelados que até dão um certo arrepio quando ele leva a mão direita à parte anterior do pescoço, procurando corrigir a postura que lhe originou um leve torcicolo. Engole a pouca saliva que resta na boca, seca pelo vento e frio inclementes.

Aproximou-se do tocador de discos dos anos 80, que desde lá não precisara de mais que um par de reparos, e começou a perscrutar os discos de vinil, em busca de algum que caísse bem para se ouvir no atual humor em que se encontrava. Cogitou ouvir o seu vinil favorito dos Beach Boys, chegando até mesmo a fazer menção de pegá-lo, mas desistiu quando lembrou-se que “God Only Knows” poderia trazer tristes lembranças, que o fariam cantarolar “God only knows what I’d be without you” entre lágrimas e soluços. Decidiu-se então por um dos seus vinis de Jazz. Somente canções instrumentais. Não era nada mal relaxar ao som de uma seleção musical elegante, encabeçada por “Love Is Here To Stay”, de George Gershwin.

Sentou-se no sofá, começou a murmurar imitando a melodia da canção, retirou os sapatos e recostou-se. Com olhos fechados, fez silêncio. Imaginava-se nos tempos dourados do Jazz e do Blues, onde as divas eram Etta James, Diana Ross, e tantas outras de elegância e beleza indizíveis, não um bando de meninas mal saídas dos cueiros fazendo movimentos que deveriam ser considerados obscenos, mas já tiveram seus sentidos banalizados.

Lembrou-se então de como Sinatra cantava essa mesma canção. Repetia para sim, em silêncio, imitando o “blue eyes”:

“In time the rockies may crumble
Gibraltar may tumble
They're only made of clay but
Our love is here to stay”

Levantou-se, tencionando tomar um banho relaxante e depois ler algo que o inspirasse. Porém, antes que atravessasse por completo o corredor que leva à parte mais interior daquele antigo prédio do corpo de bombeiros, agora transformado em lar, é interrompido de forma muito carinhosa por ela. Tinha genuína vontade de agarrá-la e fazer cócegas intermináveis em sua barriga quando vinha correndo e abraçava-o com tanto carinho.

A menina vestia uma camisola de cor violácea, que tinha uma forte ambigüidade entre sensual e infantil. Assim, também, contrastava ela própria: às vezes criança ingênua, às vezes mulher sensual.

Como foi teu dia, Li? – disse ele, segurando-a num forte abraço. Ao que ela respondeu:

- Foi chato... As pessoas acreditam cada vez menos nos sonhos delas, não? Às vezes é tão difícil conviver com essa gente toda, sem esperança...

Ao ouvir isso, ele franziu a testa e seu rosto foi tomado por uma expressão de compreensão e lamento. Ele próprio, mais até do que ela, sentia muito isso. E como o machucava aquilo.

Mas logo tratou de animá-lo, dizendo doce e infantilmente:

- Mas deixa isso pra lá... Sabe o que? Me conta uma história?

Ele fez uma expressão de cansaço e desânimo. Estava realmente exausto e precisava tomar um banho morno. Fez então a entender que não seria possível, com aquela típica cara de “não vai dar...” ostentada por um preguiçoso.

Mas ela usou seu maior trunfo. Se tivesse lançado mão de seu domínio sobre Soberania talvez ele ainda fosse capaz de oferecer resistência. Mas, não, nenhum ser em toda a Existência seria capaz de resistir àqueles olhinhos dourados e pidões, que com um “por favor” a acompanhá-los poderia convencer a mais resoluta das criaturas a fazer algo a que normalmente não estaria disposto.

- Está bem, está bem... O que queres que eu leia hoje? – disse ele após um breve e quase inaudível suspiro

- Hum... que tal... uma lenda? Mas não diretamente sobre os Kithain... Algo diferente...

Ângelo refletiu, e recordou-se que tinha um livro que poderia agradar a Aline em sua biblioteca. Fui buscá-lo e, quando retornou, a menina já estava ansiosa, pulava no lugar de excitação e desejo de ouvir a narração daquele que considerava como pai.

Tão logo ele sentou-se no sofá, a jovem se aninhou entre seu braço esquerdo e seu peito, em um fraterno, porém mais que isso, abraço. Ela encolheu-se tanto o quanto pode, para proteger-se do pouco frio que ali dentro havia. Assim que parou de contorcer-se em busca da calor, Ângelo começou sua oratória:

- “Essa é a história de Galaaz.” – fez uma breve pausa e continuou - O rei dos celtas britânicos, Artur, congregou os seus cavaleiros e lhes pediu que fossem buscar por todo o mundo o Graal, que somente poderia ser conquistado por uma alma pura sem mancha de mal. Um destes cavaleiros era Galaaz, que se põe imediatamente a caminho.

Neste ponto, é interrompido pela afoita menina dos cabelos cor de fogo, que lhe interpela:

- “O que é o Graal? E como era esse tal Galaaz?”.

- “O Graal seria, segundo os cristãos, o cálice no qual o salvador da humanidade teria bebido, em sua última refeição. Quanto à identidade de Galaaz... bem, nada sei de relevante a seu respeito.

O troll contador da história prossegue:

- “Galaaz vai através de bosques e montes, até chegar a uma praia onde aparece uma solitária nave com um cálice de ouro bordado na sua vela. Galaaz sobe ao barco e este se faz ao mar, chegando depois de dois dias a uma costa desconhecida. O cavaleiro desembarca e adentra-se em terra firme; ante os seus olhos estende um país maravilhoso. Galaaz encontra um campesino a quem pergunta em que lugar se encontra, ao que este responde que anda a caminhar por terras da Galicia. Galaaz continua o seu caminho, porém ao chegar a noite apareceu um enorme monstro, a ...”

Neste ponto, Ângelo é novamente interrompido por Aline que, assustada, pergunta:

- “Como era esse monstro? Era grande e feio e... e... perigoso?”

O homem ri simpaticamente, e diz, com um ar de bondade e carinho por aquela que tem como filha:

- “Não se preocupe... Esse monstro já não mais existe, pois, como diz o texto...

“... um enorme monstro, a que pôde derrubar, cravando-lhe a espada, que baixara do céu, no coração.” – Faz um pausa durante a qual sorri amistosamente. – “Continuou a sua viajem e, depois de passar muitos vales, encontrou junto a uma fonte, uma moça que o recebe com expressão amorosa, porém Galaaz, fiel a seu juramento, prossegue o seu caminho, vencendo os desejos de corresponder o amor da rapariga. Galaaz por fim, depois da sua longa viajem, conseguiu encontrar o Graal no alto do monte Cebreiro.”

A menina, com um largo sorriso de satisfação no rosto, diz:

- “Obrigado! Vou ter sonhos incríveis esta noite!” – e dá um beijo na face de seu tutor. – Mas que mera essa moça?

- “Não sei ao certo, mas desconfio que seja uma metáfora para as tentações que nos desviam de nossos objetivos e, no caso específico de nós, Kithain, creio que sirva de exemplo da força dos Juramentos. Assim como o que fiz, prometendo te proteger.”

Ela sorri, emocionada, e agradece mais uma vez, completando suavemente como a menina que não deixa de ser:

- “Obrigado! És o melhor pai do mundo!”

Dá outro beijo em sua face, ao que ele retribui da mesma forma. Quando ela principia a se retirar e dá as costas, recebe um tapa de leve em suas nádegas que a faz corar, seguido de um: Nada de ficar acordada até tarde, menina!

Agora sim. Estava só... só ele, o disco, seus pensamentos... e a certeza de ter, mais uma vez, inspirado a beleza.

Nota: a lenda contada por Ângelo a Aline, consta originalmente em galego, no site http://www.geocities.com/Paris/7534/lenda.htm Meus agradecimentos sinceros aos proprietários do site.

Assim disse Gustavo @ 4:16 PM   2 comentário(s)

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Uma música do passado, que volta prá assombrar...

Essa música tocava muito na época que meus pais discutiam à portas fechadas... Cara, eu odiava aquilo... E acabei até pegando umas reservas à Maria Betânia (tem "h" ou não?), na foto representada com u mefeito tétrico forjado no Photoshop... Sabe, certas coisas aconteceram que fizeram me lembrar dessa música. Não que a letra condisesse com o que senti. Mas sim o que senti no momento, lembrou-me da angústia do passado, naqueles momentos onde eu ficava desnorteado... assustado... Uma sensação muito ruim... Acho que posto a letra aqui prá reafirmar o que sinto cada dia mais... No passado, tudo era melhor... Até a dor doía menos, e a angústia não era tão profunda.


Primeiro você me azucrina
Me entorta a cabeça
Me bota na boca um gosto amargo de fel
Depois vem chorando desculpas
Assim meio pedindo
Querendo ganhar um bocado de mel

Não vê que então eu me rasgo,
Engasgo e engulo
Reflito e estendo a mão
E assim nossa vida é um rio secando
As pedras cortando
E eu vou perguntando: até quando?

São tantas coisinhas miúdas,
Roendo, comendo
Arrasando aos poucos o nosso ideal
São frases perdidas num mundo
De gritos e gestos
Num jogo de culpa, que faz tanto mal

Não quero a razão
Pois eu sei o quanto estou errado
O quanto já fiz destruir

Assim disse Gustavo @ 1:44 AM   2 comentário(s)

terça-feira, 6 de setembro de 2005

A Grande Jornada De Uma Só Obra

The Barque of Dante, de Eugène Delacroix, 1822; Óleo sobre tela, 189 x 242 cm (74 1/2 x 95 1/4"); Musee du Louvre, Paris.
(fonte: http://www.ibiblio.org/wm/paint/auth/delacroix/)

Há muitas formas de se medir o êxito de um autor. Número de exemplares vendidos (o que não quer dizer muito, a meu ver, a não ser para a editora, pois nem sempre o livro mais vendido é o melhor – ultimamente alguns são, em verdade, ruins), número de países aos quais sua obra chegou, fama, conteúdo da conta bancária... Enfim, um sem-número de maneiras. Há, porém, algo que deve dar muito mais satisfação que as medidas de sucesso acima mencionadas: um neologismo a partir do nome do autor.

Em verdade, isso pode aplicar-se não apenas a autores, mas também a qualquer homem de feitos estupendos. Um exemplo, Homero. “Homérico”, uma palavra magnífica, cheia de pujança, digna do homem a que ela deu origem. O mesmo ocorreu com o autor alvo deste texto, de tal modo excelso em seu escrever que também originou nova palavra: Dante Alighieri.

Italiano de Florença, Dante nasceu em data que dista cerca de 740 anos do dia presente e, aos nove anos, apaixonou-se de forma inquestionavelmente apegada por Beatriz, que conhecera em uma festa. Esta moça seria a grande razão de seu viver, sendo personagem em grande parte de sua obra, especialmente em “A Divina Comédia”, obra máxima do autor.

Alguém (cujo nome deveria eu recordar, mas novamente trai-me a minha memória vergonhosa) disse uma vez que o homem para ser completo deveria lutar, trabalhar e estudar. Dante fez tudo isso, e mais. Lutou pelas tropas guelfas de sua cidade na batalha de Campaldino, dedicou-se à política, e à Literatura.

Através desta última, criticou todos os tipos de homens e mulheres que se desviavam da conduta verdadeiramente correta e pia, pregada pelos homens santos que ergueram a Igreja.

Devo ser honesto, conheço pouco da obra literária deste que é um dos autores mais célebres da cultura Itálica. De tudo o que Alighieri escreveu (creio que gire em torno de 10 obras ou mais) apenas tive acesso à sua obra mais conhecida e que lhe valeu ter seu nome abrilhantado ao tornar-se um adjetivo.

“A Divina Comédia” é uma longa jornada que o poeta florentino teria feito por entre as três divisões do post mortem, porém ainda estando ele vivo. Dante é guiado por ninguém menos que o poeta romano, autor de A Eneida, Virgílio (este sim, já falecido). Longa é a jornada tanto para Dante quanto para o leitor: são 100 Cantos, divididos em 3 tomos: Inferno, Purgatório e Paraíso.

Apesar de ler este livro quase ser uma tentativa de suicido para aqueles sem muita paciência (na boa, deixando as normas de etiqueta um pouco de lado... haja saco pra ler Dante falando tantas vezes “quem és?” e ler respostas que parecem abalar o homem, mas que pra nós não dizem nada, por tratarem-se de espíritos de homens há muito falecidos), e mesmo para os leitores inveterados, como eu, ser uma leitura difícil (interrompi e recomecei a leitura do livro um sem-número de vezes, para dar um descanso à minha mente temporariamente estafada), é um texto envolvente, daqueles que nos causa a coceira da curiosidade e, quanto mais coçamos, mais sentimos o desejo de chegar ao fim do livro.

Como o adjetivo “dantesco” refere-se a algo infernal, não seria forçoso dizer que esta é a parte mais marcante do livro. Lamento apenas fazer tanto tempo que a tenha lido e algumas memórias dela já tenham se anuviado em minha confusa memória.

Durante Inferno e Purgatório, Dante é guiado por Virgílio,como dito anteriormente. Porém ocorre que, ao atingir o Paraíso, seja conduzido por guia muito mais cara a ele: Beatriz. Dante, que desde as plagas infernais mencionava Beatriz agora finalmente tinha a chance de vê-la em seu lugar de direito: a morada Divina. Nesta parte do livro, Dante deixa substancial e progressivamente mais claro o quanto ama e tem certeza da pureza dela: Beatriz tem seu lugar assegurado muito perto àquela mãe divina, que trouxe ao mundo a forma encarnada do Ser Superior.

O livro tem em seu interior conteúdo o bastante para tornar-se uma nova Bíblia e, também, um tratado contra os homens podres e vis que habitam ainda hoje a Igreja, destruindo o sentimento original da mesma, de bondade, de piedade, de Fé.

Apesar de versar (especialmente no original em italiano, onde há rimas) sobre certos temas de uma forma um tanto antiquada em algumas vezes, a essência do que Dante diz é realmente simples e pura. O que faz que, mesmo seu conservadorismo, seja portador de uma mensagem com um poder de libertar e conscientizar acerca da espiritualidade.

Assim disse Gustavo @ 8:53 PM   2 comentário(s)

Texto Alheio No "Textos do Guga" É Refresco

Atentai, vós que leis este espaço!
Apresento-vos, uma futura escritora de sucesso! Clarrisa S. M. (Acabo de notar... As mesmas inicias do Rodrigo, autor da história de Macabéa, no clássico "A Hora Da Estrela", de Clarisse Lispector - creio que isso seja o vaticínio de um futuro brilhante, ou ao menos um indício de tal).
Eis abaixo, crônica por ela escrita e a mim enviada. Em segida, minha crítica à produção da minha caríssima Clarissa. Fico honrado de abrir um pouco do meu espaço prá essa adorável pessoa.

Não se apegue demais as pessoas, nem as coisas. Pois, um dia, tudo isso vai acabar. Quem diz isso não sabe aproveitar a vida. Temos consciência de que tudo acabará um dia, mas se vivermos com essa mentalidade, será o fim. Imagine: você pega um gatinho como animal de estimação. Logo pensa: “oh, que lindo gatinho. Não vou amá-lo, pois um dia ele irá morrer. Assim, não sofrerei.”. É impossível viver assim. Dizem que a única certeza que se tem na vida é a morte. Porem, enquanto ela não vem, aproveitemos à vida. Por isso, não passem a vida pensando na morte. Vivam, amem, se apaixonem... e se um dia perderem tudo isso, procurem de novo. A vida e´feita de momentos, de agora, de presente. Faça tudo que tiver vontade. Faça loucuras, mas não sempre. Saiba diversificar a intensidade do seu momento presente. Tenha momentos loucos, lindos, calmos, serenos, tristes... De vez em quando, é bom brincar de ser Alice No País Das Maravilhas. Quando sentir vontade, entre pela toca do coelho, sem saber o que vem depois. Não calcule todos os seus movimentos. A vida não é números, a vida é sensação. Todas as sensações são validas. Não se arrependa. E se isso acontecer, viva de novo o momento, mas dessa vez sem culpa. Sinta tudo o que puder sentir. Do menor sentimento, até o mais intenso momento do mesmo. Sinta o mesmo prazer em fazer coisas diferentes; desfrute da mesma forma o prazer de deliciar uma barra de chocolate, e a calmaria de sentir a brisa no rosto. Saiba também sentir prazer nas coisas simples da vida, como receber de coração aberto o “bom dia” de um desconhecido. Ou ouvir sua musica preferida ao acaso. Nem sempre a felicidade esta onde pensamos, como em roupas, jóias, carros, etc. Essas coisas nos dão uma sensação de poder e ostentação, que confundimos com felicidade. Uma falsa felicidade. A felicidade esta onde a deixamos entrar. Abra todas as suas portas.

Em seguida, meu comentário.

Oi, Clá!

Olha só... Li teu texto e ele tá muito bom! Gostei bastante!

O tema já tá virando um chavão, pois vem sendo explorado, discutido e comentado por muita gente. Mas distinguimos os bons escritores por, entre outras coisas, conseguir falar novas coisas e de uma nova maneira de assuntos já exauridos.

O texto talvez não chegasse a ser publicado em jornais, mas só por que falta a ele uma certa rigidez acadêmica, uma linguagem desnecessariamente mais culta. Isto não é, como creio que já imagines, algo ruim. Pelo contrário, é até bom! A simplicidade deu ao texto um ar de conversa com um amigo.

Muitos dos meus textos não têm essa rigidez, apesar de eu usar geralmente um vocabulário bem amplo... Mas isso é gosto pessoal, faço por que acho que o meu modo de escrever, sabe?

Foi muito bom tu mencionares os momentos tristes. Sabe, acho que eles são principal (senão única) fonte de amadurecimento do ser humano.

Achei o trecho a seguirmuito bem escrito, e gostoso de ler:

De vez em quando, é bom brincar de ser Alice No País Das Maravilhas.

Quando sentir vontade, entre pela toca do coelho, sem saber o que vem depois.

Não calcule todos os seus movimentos. A vida não é números, a vida é sensação.

Todas as sensações são validas. Não se arrependa. E se isso acontecer, viva de novo o momento, mas dessa vez sem culpa.

Sinta tudo o que puder sentir. Do menor sentimento, até o mais intenso momento do mesmo.

Muito bom! Muito mesmo! Fantástico, eu diria! Que futuro brilhante aguarda quem tem sensibilidade para escrever tais linhas? Comcerteza, um que brilhe tanto quanto as estrelas!

Talvez tenha faltado um pouquinho mais de contraste entre os tipos de prazer, mas isso é amplamente compensado pelo restante do texto. Especialmente pelo fato de teres mencionado os pequenos prazeres.

E para finalizar, o trecho abaixo serviu como emblema do texto, e cai como uma bomba de consciência sobre as cabeças desavisadas dos leitores:
A felicidade esta onde a deixamos entrar.

Abra todas as suas portas.


Enfim, magnífico, meu anjo! Maravilhoso! Uma prova de que a juventude não faz só bobagens. Faz também arte, e recheada de beleza!

P.S.: Na foto que ilustra este post, a própria Clarissa.

Assim disse Gustavo @ 12:52 AM   2 comentário(s)

O Autor

O autor
Nome: Gustavo Ribeiro
Lugar: Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Um cara aprendendo com a literatura e as culturas de outros países e do meu. Sempre aprendendo, sempre vivendo como se fosse o último dia.

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